sábado, 28 de janeiro de 2017

a avaliação prévia e o posicionamento óbvio

Ao longo da história da luta de classes sempre foi assim. Assistimos inúmeras vezes a lutas do proletariado em defesa dos seus direitos, raramente por reivindicação de novos, e nunca, ou quase nunca, em resultado de trabalho pensado e prolongado no tempo que assente no fomentar da ideia comum em direção ao interesse também comum.
Isto acontece porque, o povo, os trabalhadores, a massa popular, vivem sedentos de sossego, de paz social e quotidiano descansado e aproveitam cada momento que se lhe assemelhe, ainda que desenhado pelo inimigo, o capital explorador e usurpador da riqueza gerada pelo trabalho, e cujo interesse é oposto ao seu.
Isto acontece também porque o espírito crítico dá trabalho e depende do interesse e perda de tempo livre para dedicar ao estudo. Acontece porque nos vão fazendo crer que o interesse e empenho no sucesso individualizado pode compensar... e pode! Mas não a todos. E a cada caso bem sucedido, sucedem-se inúmeros de miserabilidade em forma de compensação.
Serve isto para mostrar que, ao contrário dos Trabalhadores e do povo, que atuam em função da necessidade premente, os patrões e o capitalismo jogam a seu bel prazer porque entram no jogo a ganhar e, por via disso, podem a determinado momento refrear o ímpeto atacante porque a determinada altura do jogo, quando o adversário se empenha loucamente no ataque, haverá uma brecha defensiva para explorar.
Mas o patronato não domina apenas a arte do contra-ataque... porque tem os árbitros do seu lado e joga em casa perante o seu público, sabe que pouco tem de fazer desde que com perseverança e em ato continuado. a ajuda do poder decisor e o deslumbramento do adversário perante a grandeza do cenário tratarão de fazer o resto.
Vem isto a propósito da opção de algumas empresas pela suave, pausada, mas contínua descapitalização humana. Ele é uma opçãozinha estratégica aqui para responder a exigências de mercado, ele é um cirúrgico ataque ali cavalgando os pequenos ódios pessoais entre Trabalhadores e dispensando pessoas com menor força de defesa junto dos pares, ou até mesmo por via da preparação prévia do conceito e o fomento da sua aceitação e defesa dentro da massa trabalhadora (sempre o maldito empreendedorismo a minar mentalidades mais frágeis), até que eles próprios, os defensores da separação e marginalização, são marginalizados.
E isto para quê? o que ganha uma empresa com a externalização de setores e processos?
Nada, não ganha absolutamente nada. Uma empresa retalhada e cujos setores têm características diferenciadas e diferentes formas e velocidades de trabalho está condenada a arrastar-se e atrasar-se no tempo.
Quem ganha então com isso?
Sim, alguém ganha... em pouco tempo se vai perdendo a capacidade dos Trabalhadores para a reivindicação de direitos. Em pouco tempo, quando não há número suficiente para fomentar a discussão, se vai entranhando a ideia de que o Trabalhador deve gratidão ao Patrão por lhe dar a oportunidade de ser explorado. Em pouco tempo os custos com o Trabalho baixam drasticamente de modo a que os donos das empresas, os acionistas e estruturas de gestão, rapidamente enriquecem por via da maximização dos lucros às custas do trabalho de outros.
Empresas caem, desmoronam-se por falta da base sólida que é uma massa Trabalhadora competente e comprometida quando bem remunerada. Outras aguentam-se, mas sempre sempre às custas do esforço comum desses mesmos Trabalhadores que, na iminência da miséria, se sujeitam a um esforço suplementar.
É pois a união dos Trabalhadores que nos garante sobrevivência... Só uma sociedade consciente do bem comum e lutadora pelo interesse de todos permitirá a manutenção de uma estrutura equilibrada e geradora de riqueza tal onde os Trabalhadores nem se importarão com a  realidade capitalista onde ela assenta.
Só numa lógica de solidariedade entre Trabalhadores, onde se denuncie as situações de precariedade laboral e se renuncie à convivência com essa realidade, é que se conseguirá manter a força da reivindicação e niveis de vida aceitáveis para qualquer ser humano.
Só numa movimentação em bloco se consegue defender direitos e reivindicar melhorias que interessam a cada um de nós, e a todos nós em simultâneo.

Sem comentários:

Enviar um comentário