sábado, 24 de junho de 2017

Reversão não é revolução

A contínua precarização das relações laborais em Portugal tem galgado terreno às custas do compromisso único dos agentes políticos com o corporativismo capitalista.
A precariedade é "familiar" direta da escravidão e não combina com as exigências sociais de um país que se diz desenvolvido.
A expressão "reformas estruturais" passou a ser fácil e popularmente aceite e entendida como um chavão que traduz a propensao para uma realidade de mais trabalho com menor custo para as empresas, menor rendimento para quem trabalha, e dele depende a sua sobrevivência.
A precariedade já atinge todos os Trabalhadores em Portugal. Da sustentação capitalista e política de uma bolha de desemprego ameaçadora a amedrontadora à população ativa, até à lenta mas efetiva invasão da realidade precária aos postos de trabalho até agora estáveis, tudo serve para, de forma assertiva, se ir moldando o entendimento da generalidade dos Trabalhadores até à aceitação autónoma desta realidade que descaracteriza profundamente uma sociedade inteira e condena várias gerações à inevitabilidade da luta pela sua normalização.
A luta de um povo deveria constituir processo de desenvolvimento e melhoria das condições e caracterização sociais mas, pelo privilégio da detenção dos meios capazes de implementar força de influência, seja pela detenção da propriedade dos órgãos de comunicação social, seja pela capacidade de gestão das redes sociais que moldam o pensamento e perceção social de um povo inteiro, estamos a ser empurrados para a situação de confinamento de escolhas à alternativa única de lutar pela reposição de direitos.
Esta é a capacidade de orientação paciente que a classe dominante detém e nos remete à constatação da inevitabilidade, sem que nos desperte o processo em si, por nos "presentear" amiúde com motivos de distração que, na maioria das vezes, se concretizam à nossa custa. A satisfação do ímpeto consumista é o maior dos exemplos.
Mas nenhuma das estratégias é perfeita. Desde logo porque a autonomia popular dirigida para a formação cívica, sociológica e cultural, a existir, seria atitude magnânima bastante para que a população, por si, se orientasse no sentido contrário. Depois, porque todas as estratégias cometem erros e não evitam a abertura de brechas que permitem ver o cerne da política de estratificação social que a caracteriza. Mais não fosse, a satisfação dos intentos das políticas do capital demonstra, por si, a sua característica anti popular.
As contínuas ações prepotentes, arbitrárias e de ataque que, cada vez mais descaradamente, o capital põe em prática, materializadas na perseguição, opressão, retaliação e desrespeito pela individualidade, sobre aqueles que, ainda que precários, ousem defender-se e exigir o cumprimento dos seus direitos, demonstram de forma clara e inequívoca o propósito da contínua política de  precarização em que o capital se tem empenhado. A estratégia visa unicamente o isolamento dos Trabalhadores, promovendo a sua individualização e  enfraquecendo os seus direitos até à situação final da orientação totalmente condicionada de cada um e a sua aceitação da vivência miserável por alternativa à não sobrevivência.
A precariedade é a ligação direta à escravatura, sem exageros de retórica, mas com todo o alarmismo que a situação merece.

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