domingo, 24 de setembro de 2017

São vítimas, não guetos!

Matosinhos não é só terra de horizonte e mar... É também terra de bairros sociais, muitos bairros sociais.
Para o bem e para o mal, a década de 90 foi fértil em soluções deste género a que, aos dias de hoje, são apontados imensos dedos reprovadores, mas que na altura solucionaram o problema das barracas insalubres e clandestinas que se espalhavam por todo o concelho e, sem sombra de dúvidas, a opção teve o condão de transformar a a sociedade e alterar os seus standards de higiene, educação, cultura e participação social.
É certo que não foram atingidas as expectativas criadas na altura, é isso deve-se a muita coisa.
Desde logo, o facto de não ter sido possível responder a todas as solicitações, criou algumas aversões por parte daqueles que não viram resposta positiva aos seus anseios.
Depois, grande parte da classe média sempre se mostrou muito crítica a esta solução por entender que facilitava a alguns o alcance dos objetivos de vida que, a eles, tanto lhes custou. Mas não é assim. Qualquer cidadão de classe média que analise a situação social e financeira da grande maioria dos habitantes de um bairro social, rapidamente chegará à conclusão de que  continuam a deparar-se, diariamente, com imensas dificuldades para criar os filhos, por comida na mesa, subir o seu nível cultural e social porque, definitivamente, não houve política de sustentação destas soluções que poderiam ter sido decisivas para a evolução sociológica de todo o concelho.
Mas estaria o poder político dominante interessado nisso?
Interessar-lhes-ia fomentar o aumento do nível cultural do povo e, dessa forma, potenciar o espírito crítico dos Cidadãos?
Tudo leva a crer que não...
Fruto disso, na maioria dos bairros sociais em Matosinhos, a população foi deixada ao abandono e o poder político dominante abdicou de usar a alavanca social que permitiria a sua emancipação.
Os bairros sociais em Matosinhos não são guetos, como já ouvi alguém dizer na campanha autárquica. Uma análise atenta a estes polos habitacionais permitiria notar que não vivem ali pessoas iguais, mas sim da mais variada proveniência e caracterização política, racial, ideológica, religiosa, sexual, clubística, física, intelectual, etc, etc, etc... Caracterizar os bairros sociais de guetos é apenas abdicar de lá entrar, por preconceito, e tomar o todo por um só.
Voltando ao tema, faltou em Matosinhos dotar estes espaços das condições necessárias à potenciação do pensamento próprio que leva à capacidade de dar o salto quer física, quer intelectualmente. Já na década de 90 sabíamos que qualquer bairro social deveria ser acompanhado em permanência e dotado de meios dedicados de desenvolvimento de competências que, na altura, eram identificados como polos de formação profissional, fosse tecnológica ou artística.
O exemplo da garantia de sucesso são aqueles, país fora, onde isso aconteceu. Bastava essa pequena diferença para que a população passasse ela própria à fase de auto regulação e criasse as suas regras, normalmente as mesmas da sociedade onde se insere.
Não bastasse esta insuficiência social a que o poder político dominante se esqueceu de dar atenção, houve ainda o cair na crítica e condenação fáceis...
Sabemos pelos estudos de hoje que a delinquência e criminalidade é, mais do que mera opção, uma propensão impelida pela insuficiência de oportunidades de afirmação pessoal e social. Apesar disso, influenciado pelo populismo moderno, o poder político dominante deixou-se levar pela tentação de dar boa resposta aos ímpetos ostracistas que a má informação empresta aos setores da sociedade com mais voz pública e, em ânsia, foi penalizando ainda mais, por via do agravamento de rendas e diminuição de apoio social e económico, esta gente já antes tão penalizada.
Creio que a solução aos problemas acima se descortina entre linhas e garanto que me convenço da sua resolução fácil.
A velha máxima da cana de pesca assume sempre caráter de melhor resposta a estás situações. Porém, há que garantir o acesso ao peixe a aqueles que ainda não possuem a cana!


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