segunda-feira, 9 de abril de 2018

O único negócio da polarização social

Lia hoje, através do LinkedIn, essa ferramenta que maquilha o mundo corporativo e as relações laborais, uma publicação de um diretor regional de uma multinacional tecnológica que alertava em tom alarmado para aquilo que, segundo ele, era "o mau negócio da polarização social". 
De uma forma propositadamente simplista, porque a análise seria é uma chatice dos diabos que nos prega grandes rasteiras quando montamos outro cavalo que não o da seriedade, o fulano aborda e caracteriza de errada e socialmente suicida, a contraposição diametralmente oposta de um segmento da sociedade em resposta ao ataque de outro. 
Referindo-se ao Brasil, declarava a sua insatisfação perante a sujeição da caracterização social apenas aos epítetos de coxinha vs mortadela, verde e amarelos vs vermelhos, fascistas vs comunistas, etc... Podíamos desmontar a básica tentativa de assemelhar a valorização destes dois adjetivos últimos, como se alguém que luta pela igualdade de direitos e harmonização social pudesse ser assemelhado a outro cuja intenção é a estratificação social, a supremacia de uns sobre outros e a acumulação de poder e riqueza numa pequena parte da população. Mas não é disso que tratamos... O que nos leva a esta discussão é, mais uma vez, a intrínseca queda para a valorização do mundo corporativo como o centro do universo. O facto de esta maldita porção da sociedade, que se dedica unicamente ao objetivo central de enriquecimento da fortuna do seu patrão, fazê-lo com tamanho afinco, transforma-os em seres poderosíssimos mas, também, ensimesmados pela dureza da missão fruto da fatídica adjetivação de efémera. Segundo a sua predisposição, as empresas estarão recolhidas e desconfiadas do atual estado de polarização social porque, pela incerteza de rumo, pelo equilíbrio de forças que impede adivinhar a saída, não se atrevem à aventura do investimento e, fruto disso, o mundo pára... Ora, é precisamente aí que cortamos o alinhamento. O mundo não pára... Desde que se conhece e avaliação a sua evolução, o mundo acelera e abranda o seu desenvolvimento em função deste tipo de acontecimentos e dependendo do alinhamento da franja maioritária ao lado ou contra a classe dominante, que normalmente funda o seu poder, não na supremacia demográfica, mas na detenção da fonte de riqueza ou domínio da crença sobre a insuficiência intelectual. Ora, sempre que a segunda opção se verificou, o mundo alavancou o seu progresso civilizacional e, fruto disso, os hábitos e costumes alteraram-se em favor dos mais desfavorecidos, a maioria, sempre, inquestionavelmente, em cima de uma revolução. Mas as revoluções não se fazem por si... Não há uma agenda revolucionária mundial, descrita para a total abrangência temporal futura, que predetermine o seu acontecimento. As revoluções resultam sempre de dois aspetos fundamentais, sem os quais jamais teriam base de lançamento sólida e efetiva. Primeiro, a manutenção dura e inflexível de setores da sociedade penalizada bem formados por vincada ideologia e sentido de classe, servindo de semente, ou melhor, banco de sementes da revolução. Grupos ou instituições assumidamente revolucionárias, assumidamente de esquerda, assumidamente defensoras da sua classe desfavorecida, proletários ou não, porque aí é a capacidade imediata de ação que conta, fruto da faculdade de "ter as mãos na massa", mas, mais uma vez, assumidamente contrárias ao domínio social de uma classe minoritária, caracterizando-a sempre aberração social e inversora do equilíbrio que garante, não só a sobrevivência humana, mas também a felicidade plena. Essa existência, bem fundada em associações, instituições e, melhor ainda, partidos políticos de assumida ideologia progressista, será sempre o garante da preparação de um povo para espoletar a revolução. Por outro lado, e porque sabemos que um homem não se atira a um animal feroz enquanto não vê posta em risco a sua própria vida, será sempre necessário que a classe dominante cometa um dos seus muitos erros de movimentação. Hoje em dia, fruto da adoção de estratégias simpáticas e camufladas que, por um lado, lhes garante o adormecimento da população, mas, por outro, a habitua ao patamar intermédio de riqueza corrompendo-a em largas franjas para a defesa da sua causa, qualquer erro de estratégia, maioritariamente cometidos pela ânsia de sucesso destes seus "agentes duplos", tem a capacidade de desviar o manto rosa e dourado que cobre as evidências da exploração, deixando algumas delas a descoberto, situação também indispensável ao cenário de lançamento da revolução. Posto isto, voltemos à abordagem inicial... Se, à partida, a situação corrente intemporal se caracteriza como altamente penalizadora para uma das partes, fruto do intrínseco cariz exploratório, como poderá a reação atual em métodos de tentativa do equilíbrio? A lógica fundamental da comparação de forças assenta, incontornadamente, na medição da força máxima de cada um dos lados, da partida simultânea de ambos os extremos, em movimento proporcional, até ao encontro de convergência ou ao acordo de convivência. Vários relatos da história o comprovam. Numas situações prevalecendo o que acima se descreve, noutras acabando por evidenciar-se o domínio total de uma das partes por evidente supremacia de forças. O mundo não tem regras de evolução, mas apenas traços de caracterização sociológica que permitem identificar projeções semelhantes no tempo e perceber a probabilidade de desfecho, desde que se contabilize a influência cultural do seu tempo. Nenhuma das situações que se possam colar ao que se descreve acima teve sucesso ou sequer se evidenciou partindo da tentativa de equilíbrio. O equilíbrio é um ponto sensível que se consegue apenas por resultado de muita sensatez da parte dos povos que, à partida, abdicaram dela. A exploração só termina quando o explorado tenta inverter a situação na totalidade. Ao fascismo deve responder-se com a força, ponto!



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