Sérgio Sousa Pinto está no mesmo patamar que Francisco Assis, com a diferença de ainda ter entranhadas ilusões politico-partidárias e dar-se ao trabalho de arredondar os cantos ao discurso.
Nesta entrevista, que deu à rádio Renascença e ao Publico, é ouvi-lo defender que "Portugal tem que aprovar a legislação sobre o que é a atividade do lobismo"
Regular o exercício de lóbi corporativo é nada menos que legalizar a corrupção... digo eu...
Existem ações de lóbi que o entendimento popular não condena, como aquele que é feito por associações sociais, regionais e, por via do alargar do crivo, empresariais.
Competirá obviamente ao agente político agir em conformidade com o bom senso e não retirar benefício pessoal (ou para qualquer familiar e amigo) das decisões por si tomadas no exercício da função governativa.
Mas Sérgio Sousa Pinto vai mais longe. Segundo ele, "se recebermos um telefonema de alguém temos que o escrever num registo, alguém pede para falar com um deputado e temos que ir ao registo e pôr lá: "Empresa de fulano tal, associação tal, deseja ser recebida"...
...e acrescenta:
"É um atestado de desconfiança e torna a vida dos deputados num inferno impraticável. O mais fácil é uma pessoa não se mexer, não decidir, não fazer nada. Tudo é perigoso, tudo é um risco, depois não tenho nada a ganhar, se vou falar com os doentes cardíacos, ou com os pernetas da Beira Baixa e não ponho no registo de interesses tenho aqui mais um drama, uma tragédia, aparece-me logo um título imenso".
Ora, resistindo à tentação de fazer um comentário irónico à expressão "não tenho nada a ganhar", era importante referir que esta predisposição não é mais do que uma assunção de que os funcionários que o seu grupo parlamentar contrata ao abrigo dos direitos de índole financeira e administrativa que a AR confere (subvenções inscritas no orçamento da Assembleia da República, recrutamento de pessoal de confiança política e à atribuição de locais de trabalho) não são mais do que os famosos "jobs for the boys".
Este tipo de predisposição e assunção públicas têm a sua finalidade. Tudo serve para que a mensagem passe, e passa...
Era importante haver instrumento de contraponto nos órgãos de comunicação, coisa que não há e parece estar longe de haver, mas, acima de tudo, era ainda de maior importância o reforço do sentido de classe em cada uma das faixas sociais da sociedade portuguesa.
Não há argumentação que valide esta continua opção pela escolha de governantes em prejuízo próprio!