sexta-feira, 6 de maio de 2016

O "aceleracionismo"

Ao longo da história da luta política global, e da sua associação à luta de classes, vários conceitos têm surgido, fruto dos exercícios de interpretação e análise antropológica dedicada.
Um deles tem vindo ultimamente a ser o preferido da minha atenção e curiosidade: O aceleracionismo... 
O aceleracionismo é uma teoria que, apesar de inicialmente desenvolvida pelos ideólogos de esquerda e que visava identificar traços comportamentais do capitalismo, tem sido de forma mais recente usada por essa mesma direita no sentido de catalogar atitudes mais radicais dos grupos de pensadores de esquerda e até mesmo de uma grande parte das ações dos grupos de intervenção radical, sendo que aqui já me atrevo a não diferenciar esquerda de direita. Não porque esteja tentado a alinhar pela fácil e irresponsável teoria do "mesmo saco" mas porque, de facto, tenho algum pudor em aceitar ou conviver com quaisquer atitudes coladas ao radicalismo e dê preferência, obviamente, à discussão ideológica e à defesa dos pontos de vista pessoais ou associativos.
Voltando ao início... o aceleracionismo é então o quê?
O aceleracionismo é aquilo que os pensadores entendem como a aceitação, ou até mesmo incentivo, de uma política alheia por parte de um grupo ideológico ou político com a intenção de, quer por incapacidade própria, quer com o incentivo destes, essa mesma política ou ideologia acabe por ruir e possa dessa forma provocar a desconfiança e por fim o repúdio da sociedade envolvida. 
Este tipo de estratégia poderia ser desenvolvida a um nível global ou, mais pontualmente em realidades locais, sendo que a projeção deste comportamento a nível regional e até associativo, não pode honestamente ser descartada.
Interessa ainda informar que, parecendo uma teoria assente num conceito simples, o aceleracionismo tem sido na maioria dos estudos de antropologia desenvolvidos ao longo século XX e XXI vítima de muito pouca aceitação chegando mesmo a sofrer tentativas de ocultação e esquecimento e, do lado da sociedade civil, apelidada de teoria da conspiração, tema que obviamente se revela muito mais abrangente e não se remete unicamente a este tipo de estratégia política.
Vejamos então alguns exemplos que têm vindo a ser apontados como prática de aceleracionismo:
O Nazismo: Muitos estudiosos apontam o nazismo e o nacionalismo Alemão dos inícios do século XX como uma abertura de caminho das "direitas" dessa altura para que, após a subida de  popularidade de um individuo empunhando a bandeira do socialismo, se tenham apoderado da conduta política desse mesmo sistema para pôr em prática as políticas do nacionalismo xenófobo e racista de modo a transferir o poder económico para outras mãos que não as muitas dos empreendedores e disciplinados Judeus. Com a queda, foi o socialismo que caiu e nada mais... 
Muito recentemente, há quem esteja a identificar junto dos socialistas Americanos traços de tentação ao aceleracionismo. Tenho lido que, na impossibilidade de uma vitória de Bernie Sanders nas primárias democráticas deste ano, os socialistas e demais "esquerdistas" estejam tentados a preferir uma vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton de modo a que o seu voluntarismo populista o faça parecer o-elefante-na-loja-de-porcelana e acabe por descredibilizar a cena Republicana norte-americana orientando à posteriori o eleitorado para uma maior aceitação ao acompanhamento da ideologia socialista que Bernie Sanders parece ter vindo revitalizar.
Algo ainda mais elaborado, mas com o qual tenho tendência para concordar, é a defesa de que o aceleracionismo estará bem projetado na grande confusão ideológica que se espalhou pelos países do Magreb e ainda com a expansão do ISIS na Síria. Muitos arriscam dizer que, na medida em que os Governos Ocidentais tomaram conta dos movimentos de esquerda que surgiram da primavera árabe, também o fizeram com a ideologia pró-povo que levou ao aparecimento de grupos radicais como o estado islâmico e, tendo ganho a força de manipulação de organizações cuja ideologia costuma estar do lado contrário, vão controlando as suas ações no sentido de, lentamente, irem construindo um ódio fundamentado e bem alicerçado contra esses grupos e, aproveitando-se do paradigma criado, derrotar a ideologia contrária por via da sua própria manipulação.
Por esta altura já devem ter notado que o aceleracionismo não é de igual forma visto pela esquerda e pela direita, muito menos a sua prática se assemelha, daí ser quase sempre apelidado de teoria da conspiração o ato de o identificar.
No caso da esquerda, acreditar na ilegitimidade de uma ideologia e esperar francamente que ela caia por si, não tem nada de errado. o único senão será a implicação com o abdicar de a combater dentro da fidelidade à sua.
No caso da direita, a intervenção é muito mais aprofundada e tende a afunilar para as situações de manipulação, o que não é de todo surpreendente quando partimos do princípio que está nas suas mãos o controlo dos órgãos de comunicação social, esses baluartes da democracia que na verdade nunca o foram.
Há no entanto, do lado da direita, talvez porque os intervenientes não representem agentes capazes, situações de aceleracionismo primário que poderão estar associados ao ato normalmente projetado do lado da esquerda. A atual postura da direita parlamentar Portuguesa, ansiando pelo desastre da maioria de esquerda, incentivando as instâncias europeias a agir e influenciar nesse sentido, além de se colar totalmente à postura capitalista europeia aquando da ascensão do movimento de indignação Grego, é também, na sua maioria de modo e valor, uma posição semelhante à da ala esquerda radical norte-americana acima referenciada.
Mas onde queria chegar? Quando acima identifiquei quão frequente é a forma como a prática de aceleracionismo é projetada na luta de classes regional e associativa, queria obviamente trazer o assunto para esta segunda questão...
Também nas empresas, desde há muito, com o crescimento da popularidade das organizações representativas dos Trabalhadores, rapidamente os patrões viram uma oportunidade de, aproveitando o embalo que lhes proporcionava a aceitação da ideia junto "do povo", e auxiliados pelo voluntarismo "dos burgueses" para o pôr em prática, foram-se intrometendo em Comissões de Trabalhadores promovendo a eleição de equipas contaminadas por agentes traidores à sua classe que, a troco de tostões ou apenas títulos, se apressaram a contaminar a ideologia proletária que busca o bem comum. Também no movimento sindical o fenómeno se tem evidenciado, sendo que de forma bem mais comprometedora para o futuro dos trabalhadores. Em todas as empresas há situações conhecidas de agentes sindicais ou até mesmo de sindicatos inteiros (menos comum) que se permitem corromper pela ideologia do capitalismo. Nestas situações, o aceleracionismo dos patrões evidencia-se na forma como se empenha em comprometer quaisquer possibilidades de negociação e acordo com aqueles que ideologicamente defendem o direito do trabalho e a justiça social dentro das empresas, e promovem acordos com essoutros enfatizando a sua pseudo predisposição para consensos e ofuscando as perdas de direitos e regalias e a fragilização dos instrumentos de regulamentação coletiva do trabalho dentro da sua empresa. Com esta manipulação, conduzida habilmente por departamentos de comunicação preparados a preceito e constituídos pel'Os burgueses, acabam por inevitavelmente fomentar a descrença do Trabalhador nos seus representantes em geral, coisa com que o agente sindicalista corrompido menos se importará.

José Eduardo

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