segunda-feira, 29 de maio de 2017

A ilusão burguesa do projeto europeu

A negação do projeto economico-comum da União Europeia não se limita ao tema da moeda. 
A economia moderna usufrui de um conjunto alargado de instrumentos que podem ser utilizados para qualquer um dos lados, dependendo da posição ou ideologia política e social do agente manobrador. A moeda própria é um deles... Os governos têm a possibilidade de a desvalorizar e, assim, contribuir para o aumento das exportações por via do embaratecimento dos bens e produtos sob o ponto de vista externo. Por outro lado, também os bens e serviços importados ficariam mais caros, bem como outras pequenas coisas usufruídas, por opção, no estrangeiro. No entanto, a médio prazo, isso teria um efeito dissuador na opção pela importação, compra e usufruto de bens e serviços estrangeiros, o que aumentaria consideravelmente a opção pelo consumo interno e contribuiria para potenciar a produção nacional. 
Apesar disto, não é a moeda, por si, capaz de alavancar o crescimento económico de um país. Ainda para mais dependendo tanto da opção política de em que vertente reforçar o empenho e daí variar consideravelmente o resultado final. A reviravolta económica tem de assentar em questões bem menos voláteis e de resultado muito mais direcionado para a valorização material. É por isso que o projeto de economia comum está errado, por se verificar assente em compromissos de relacao inter estados que na prática se traduz na supremacia de uns sobre os outros e, ainda mais que económica, resultar muitas vezes, por confusão de conceitos, em supremacia social e moral, tantas vezes promovida pelo interesse político das autoridades do país submetido. 
Não há um único conceito económico que valide a atitude austera cega de um credor sobre o devedor. O pior que pode acontecer a um credor é a falência do seu devedor. Um devedor falido ficará impossibilitado de pagar a sua dívida para sempre e o prejuízo retornará ao credor. Tanto pior é a situação quando percebemos que as entidades credoras sabem deste conceito. Um país não entra em falência, porque na prática isso significa inviabilizar a vida do seu povo. Um país não acaba. Pode ser levado à ruína, mas as convenções internacionais garantem-lhe a sua independência política bem como a auto-determinação do seu povo. É por isso que a obrigação dos credores é a de garantir ao máximo a saúde económica desse país devedor, potenciando a sua capacidade de regeneração para que mais rapidamente a dívida seja saldada. Mas estarão esses credores verdadeiramente interessados em que a divida seja saldada? Ou preferirão eternizá-la de modo a maximizar o seu rendimento no tempo por via de taxas de juro que eles próprios controlam em função das suas intenções?
É aqui que entra a exigência da prática da auto determinação do povo. Uma sociedade equilibrada, com a perspetiva do socialismo como projeto político inscrita na sua constituição, não pode permitir esta ingerência externa e ataque à sua soberania. É de todo inaceitável que o Banco central Europeu se esqueça do seu conceito primário e se demita de pôr em prática as medidas padrão de defesa de um estado membro contra a especulação e agiotagem dos interesses externos. A pronta intervenção do BCE no início da atual crise económica europeia te-la-ía evitado por completo e teria poupado o povo grego ao sofrimento a que é agora submetido por imposição de regras que o enterram ainda mais no lodo da miséria e descaracterização social. Mais do que isso, teria poupado a Portugal o gasto acrescido de milhares de milhões de euros ao ano só para juros de uma dívida que, por interesse alheio ao do povo, continua a crescer. 
Não é aceitável que, no momento em que um país mais precisa de reforçar a sua estrutura produtiva e geradora de riqueza, se esteja a manietar essa capacidade com imposição de gastos estéreis. Os milhares de milhões que, anualmente, aplicamos no pagamento de juros da dívida, deveriam ser canalizados para duas vertentes completamente distintas da atual como o abatimento à própria dívida e a potenciação da capacidade produtiva nacional. 
É portanto urgente mudar o rumo, e tal não será possível se o povo não assumir essa premissa como necessidade fundamental e condição única para a sua emancipação. 
É importante que se assumam projetos de interesse nacional, onde a iniciativa privada também cabe, mas cujo controlo deverá ser dado à garantia do bem comum. 
É urgente potenciar a reativação da exploração nacional como fonte principal para a produção e enriquecer a indústria com o conhecimento bem germinado nas universidades públicas do país inteiro. 
Resumindo, é preciso por mãos à obra com a necessária clareza de ideias viradas para o enriquecimento interno. 
É preciso deixar de andar a proclamar que somos um país trabalhador sem que, na verdade, o evidenciemos na prática. Essa evidenciação passará obviamente pela capitalização desse trabalho para o reforço do bem comum e não para o enriquecimento privado. 
Há que dar, portanto, a pedrada no charco que se exige. Há que acabar com a ilusão burguesa do projeto europeu de que a riqueza se alcança com tratados políticos e diplomáticos. 
Não é... É com trabalho e auto determinação.

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